Às vezes, via sua vida! Como num cinema mudo, sem a
percepção de que realizaria ou sonharia novamente com as coisas que sempre
desejou. Era como se houvesse perdido a perspectiva, passava dias e noites
tentando se acostumar com a triste ideia de que seria apenas ele pelo resto de
seus dias. Via as pessoas ao seu redor, vivendo, e por vezes sentia-se como uma
massa inerte, isolado em seu mundinho sepulcral. É como se sua alegria não
bastasse ao mundo, como se a sua vontade e seu desejo de vivenciar coisas
simples fossem sufocados, não pela sua falta de coragem, mas pela ausência
total de pessoas dispostas como ele, ou dispostas a ele. Os amigos, bem eles
estavam por toda a parte, vivendo suas vidas, fazendo suas descobertas, lutando
por um espaço, exatamente por aquele no qual às vezes queria fazer parte, mas
se sentia tão inapropriado, ou tão obsoleto que havia desistido de pertencer.
Pertencimento, talvez fosse este o sentido que lhe faltava, pertencer à algo, à
algum lugar. Sentir já não era o suficiente, já não sentia mais nada fazia
algum tempo, talvez a solidão em excesso e as perspectivas de que poderia ter
sido feliz o iludiram tanto, que quando viu que isto não chegaria a sua
realidade, se deu conta que o único sentimento à que estava preso era a tristeza.
Poucas vezes se sentiu desejado, acho que nunca foi de fato amado. E isso
dificultava ainda mais o processo, mas sabia que estava no caminho, em breve
teria que se acostumar e aceitar que de fato seria assim: ele e apenas ele.
Teria que se amar. Teria que apreender a aceitar a única companhia que lhe
bastava. A sua.
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